segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

A HISTÓRIA DE FERNÃO CAPELO GAIVOTA. Richard Bach. A história de que todo fim é apenas o começo.

RICHARD D. BACH autor do livro A História de Fernão Capelo Gaivota,  na realidade um conto filosófico transcendental de autoajuda, é piloto, mecânico e escritor norte americano. Nasceu em 23 de junho de 1936 em Oak Park, Illinois, Estados Unidos. Piloto de acrobacias e mecânico reservista da Força Aérea Norte-Americana passou a exercer atividades também de escritor. Todos os seus livros abordam o voo.  A obra literária de Richard Bach consta de cerca de vinte livros¹. Em 2016 está com 80 anos de idade. Bach foi casado de 1977 até 1999 com a atriz Leslie Parrish nascida em 1935 em Massachusetts. Em certo tempo, Bach teve problemas com impostos financeiros para com o Governo americano porque escolheu pessoas de confiança, mas incompetentes para administrar  a fortuna que chegou com o sucesso do livro Fernão Capelo Gaivota, o qual se torna um dos melhores e mais vendidos livros do ano – um   Best-seller. Em Setembro de 2012, (com 76 anos) ele ficou gravemente ferido na queda de um avião que pilotava quando tenta aterrissar na Ilha de San Juan, no Estado de Washington, tendo sofrido ferimentos na cabeça e no ombro.
O livro de Richard Bach cujo título original é  “Jonathan Livingston Seagull – the story” se tornou Best-seller internacional e foi lançado em 1970 em New York, como ficção. Mas, na verdade é um conto filosófico transcendental de autoajuda. “A História de Fernão Capelo Gaivota” tem fotos do também piloto norte americano e professor universitário de fotografia Russel Munson, o qual começou fotografando aviões. Fotografar, dar aulas de percepção visual e voar é a sua paixão. As fotografias aéreas de Munson estão em coleções privadas, em museus.
O título original é “Jonathan Livingston Seagull – the story”. A capa original foi de Tom Bean. Sabrina Bach em 1998 fez a renovação do Copyright e das fotos. Em 2070 o livro teve edição pela Editora Nórdica, com tradução de Antonio Ramos Rosa e Madalena Rosález. Desde 1998 a renovação dos direitos de cópia (sempre da 1ª edição) passaram a ser de Sabrina A. Bach. A cada edição, no entanto, a tradução se diferencia. O nome do bando das gaivotas de Fernão é denominado Bando de Alimentação; Bando do Pequeno-Almoço; Bando da Alimentação, e na edição 2015 Bando do Café da Manhã. Lançamento da Editora Record a nova edição 2015 trás a inédita Parte 4, com tradução de Ruy Jungman do texto original e Márcia Alves da inédita Parte 4. Agora a história completa contada por Richard D. Bach.
O jovem autor preferiu omitir essa parte triste da história tão bonita. “Não acreditei nele. As três primeiras partes contavam toda a história, pensei. Não havia necessidade da quarta: um céu deserto, palavras desinteressantes para abafar a alegria, ou quase... Não precisava ser publicado.  Então por que não a destruí? Não sei... era a escrita dele, do garoto de então...”. Mas, o velho piloto e escritor resolveu contar!
Em 2012 após longo tempo inconsciente e hospitalizado após o grave acidente aéreo, enquanto convalescia, a sua Sabrina encontra entre velhos papeis o antigo original datilografado e lhe diz sorrindo: lembra disso? Ele responde que “não lembra”, mas, ávido por se rever naquele jovem no tempo longínquo em que escrevera a história leu e resolve não encobrir mais.
Naquele tempo o futuro ainda estava por chegar. Agora o futuro já chegou. Como estarão agora as gaivotas? Estaríamos nós, gaivotas, sendo aprisionadas, dominadas e cegas, adeptas de falsas crenças, impedidas de começar a aprender a voar?
 “No seu século XXI, cercado pelas autoridades e pelos rituais, está tudo engatilhado para estrangular a liberdade. Não consegue enxergar? O plano é fazer o seu mundo seguro não livre.” {...} “Meu tempo passou o seu não”. (BACH, 2015, p:131). 


A HISTÓRIA DE FERNÃO CAPELO GAIVOTA, inclusive a inédita parte 4 - Richard Bach, É UMA HISTÓRIA DE QUE TODO FIM É APENAS O COMEÇO.

UM DIA, ENQUANTO PENSAVA SOBRE A VIDA, O JOVEM BACH ESCUTOU UMA VOZ QUE LHE CONTOU A HISTÓRIA DE UMA GAIVOTA que queria voar mais alto e mais rápido. Bach escreveu tudo o que ouviu. Ao final tinha em mãos o primeiro exemplar de A História de Fernão Capelo Gaivota, Best-Seller internacional que influenciou e mudou no final do século XX a vida de milhões de leitores desse conto filosófico transcendental de autoajuda. É um hino à liberdade para além dos limites provisórios. ...devemos evitar tudo o que nos limita, mesmo que seja a lei do bando. Uma história de que todo fim é apenas o começo. Richard Bach nos diz o que ouviu da voz misteriosa: que cada um de nós é a imagem da Grande Gaivota, uma ilimitada ideia de liberdade, e assim, todo o nosso corpo é em si o nosso próprio pensamento. Que as verdadeiras gaivotas nunca voam no escuro. Que o paraíso não é um lugar e nem um tempo, porque tempo e lugar não significam nada. O paraíso é ser perfeito e voar à velocidade do pensamento para onde quer que seja, e deve-se começar acreditando que já se chegouDisse que devemos evitar tudo o que nos limita, mesmo que seja a lei do bando. E nos diz qual é A Grande Lei, a que nos conduz à liberdade: é Amor e Bondade, não há outra.  Amor é treinar até ver a Verdadeira Gaivota e o que há de bom em cada uma delas e ajudá-las a ver isso nelas próprias. Amor é Compreender e com Bondade colocar isso em prática. Colocar em prática o amor é esquecer até conseguir perdoar e ajudar aqueles que não o amam. Fernão nasceu para ser instrutor, mas ao longo das várias dimensões vê o quanto é difícil dizer a uma gaivota que ela é livre e pode com treino começar a aprender a voar mais alto e mais rápido para além dos espaços restritos. E que a nós é possível escolher os mundos onde iremos viver. Eles poderão ser o paraíso, poderão ser iguais ao que os terráqueos conhecem ou poderão ser os mundos de  inferno trevosos de noites cegas cheias de terror. E ensina como chegar ao paraíso da grande lei: (Universidades da perfeição) aprendendo, aplicando, praticando, e entendendo o que é o amor e a bondade para com o mundo e todas as coisas do mundo, onde quer que se esteja. Pois todo fim é apenas o começo. Para tudo isso há um segredo:  Acreditar que já tem tudo o que deseja ter. É isso!... Tudo o que eu preciso é de duas asinhas curtas, tudo o que eu preciso é fechar as asas o mais que puder e voar só com as pontas!  Subtende-se aqui o refinamento da sensibilidade para alçar voo leve, sem cargas desnecessárias. E descobrir todo o mistério das coisas sem explicação.


... DEVEMOS EVITAR TUDO O QUE NOS LIMITA, MESMO QUE SEJA A LEI DO BANDO.

VÊ MAIS LONGE A GAIVOTA QUE VOA MAIS ALTO.

... FERNÃO NASCEU PARA SER INSTRUTOR, MAS AO LONGO DAS VÁRIAS DIMENSÕES VÊ O QUANTO É DIFÍCIL DIZER A UMA GAIVOTA QUE ELA É LIVRE E PODE COM TREINO COMEÇAR A APRENDER A VOAR MAIS ALTO E MAIS RÁPIDO PARA ALÉM DOS ESPAÇOS RESTRITOS.

... E DESCOBRIU A GRANDE LEI, A QUE NOS CONDUZ À LIBERDADE: É AMOR E BONDADE, NÃO HÁ OUTRA.

... E QUE CADA UM DE NÓS É A IMAGEM DA GRANDE GAIVOTA, UMA ILIMITADA IDEIA DE LIBERDADE.

... E QUE O PARAÍSO NÃO É UM TEMPO E LUGAR. O PARAÍSO É VOAR COM O PENSAMENTO PARA QUALQUER TEMPO E LUGAR QUE SE QUEIRA IR.

... PARA VOAR TÃO DEPRESSA COMO O PENSAMENTO PARA ONDE QUER QUE SEJA  DEVE-SE  COMEÇAR POR TOMAR CONSCIÊNCIA DE QUE JÁ CHEGOU... ESSE É O  TRUQUE.


COMO SE DÁ A PASSAGEM DE UMA DIMENSÃO À OUTRA DIMENSÃO:
 ... AS DUAS GAIVOTAS QUE SURGIRAM JUNTO ÀS SUAS ASAS ERAM PURAS COMO A LUZ DAS ESTRELAS E O BRILHO QUE DELAS SE DESPRENDIA ERA LEVE E AFÁVEL NO ÉTER NOTURNO. MAS, O MAIS ENCANTADOR ERA... AS PONTAS DAS ASAS MOVENDO-SE A UM CENTÍMETRO EXATO E CONSTANTE DAS SUAS. (LEVANDO-O DE MÃOS DADAS). SEM UMA PALAVRA, FERNÃO SUBMETEU-AS AO TESTE... (FERNÃO FEZ COMO EM VIDA FARIA ALEGREMENTE, COM UMA DAS SUAS IRMÃS AO ENCONTRÁ-LAS NO AR)... OS DOIS PÁSSAROS, IRRADIANTES, DESLIZARAM COM ELE... SABIAM VOAR DEVAGAR. ... GIRARAM COM ELE, SORRINDO. REGRESSOU AO VOO PLANADO E ESPEROU ALGUM TEMPO ANTES DE FALAR. – “MUITO BEM. QUEM SÃO VOCÊS?” – “NÓS SOMOS DO SEU BANDO, FERNÃO. SOMOS SUAS IRMÃS.” – AS PALAVRAS ERAM FORTES E CALMAS. – “VIEMOS PARA LEVAR VOCÊ PARA MAIS ALTO, PARA LEVÁ-LO PARA CASA.”. – EU NÃO TENHO CASA. NEM TENHO BANDO. FUI BANIDO. ... JÁ NÃO POSSO ELEVAR ESTE VELHO CORPO ALÉM D’UMAS CENTENAS DE METROS. – “VOCÊ PODE SIM, FERNÃO. PORQUE APRENDEU. ACABOU-SE UMA ESCOLA E CHEGOU A HORA DE COMEÇAR OUTRA.”. ...

... PARA TUDO ISSO HÁ UM SEGREDO:  ACREDITAR QUE JÁ TEM TUDO O QUE DESEJA TER.


 ... É ISSO!... TUDO O QUE EU PRECISO É DE DUAS ASINHAS CURTAS, TUDO O QUE EU PRECISO É FECHAR AS ASAS O MAIS QUE PUDER E VOAR SÓ COM AS PONTAS!

... NÃO CREIA NO QUE OS SEUS OLHOS LHE DIZEM. TUDO QUE MOSTRAM É LIMITAÇÃO. OLHE COM O ENTENDIMENTO, DESCUBRA O QUE VOCÊ JÁ SABE E VERÁ COMO VOAR.

... CADA UM DE NÓS É A IMAGEM DA GRANDE GAIVOTA, UMA ILIMITADA IDEIA DE LIBERDADE, E ASSIM, TODO O NOSSO CORPO É EM SI O NOSSO PRÓPRIO PENSAMENTO.



RICHARD D. BACH piloto, mecânico e escritor norte americano nasceu em 23 de junho de 1936 em Oak Park, Illinois, Estados Unidos. Piloto de acrobacias e mecânico reservista da Força Aérea Norte-Americana passou a exercer atividades também de escritor, todos os seus livros abordam o voo.  A obra literária de Richard Bach é de cerca de vinte livros¹. Em 2016 está com 80 anos de idade. Bach foi casado de 1977 até 1999 com a atriz Leslie Parrish nascida em 1935 em Massachusetts. Em certo tempo, Bach teve problemas com impostos financeiros para com o Governo americano porque escolheu pessoas de confiança, mas incompetentes para administrar  a fortuna que lhe chegou com o sucesso do livro Fernão Capelo Gaivota, o qual se torna um dos melhores e mais vendidos livros do ano – um   Best-seller. Em Setembro de 2012, (com 76 anos) ele ficou gravemente ferido na queda de um avião que pilotava quando tenta aterrissar na Ilha de San Juan, no Estado de Washington, tendo sofrido ferimentos na cabeça e no ombro.

O livro de Richard Bach cujo título original é  “Jonathan Livingston Seagull – the story” se tornou Best-seller internacional e foi lançado em 1970 em New York, como ficção. Mas, na verdade é um conto filosófico transcendental de autoajuda. “A História de Fernão Capelo Gaivota” tem fotos do também piloto norte americano e professor universitário de fotografia Russel Munson, o qual começou fotografando aviões. Fotografar, dar aulas de percepção visual e voar é a sua paixão. As fotografias aéreas de Munson estão em coleções privadas, em museus. VEJA EM: 



SAIBA MAIS: https://pt.wikipedia.org/wiki/Richard_Bach


 O título original é “Jonathan Livingston Seagull – the story”. A capa original foi de Tom Bean. Sabrina Bach em 1998 fez a renovação dos direitos autorais (Copyright) e das fotos. Em 2070 o livro teve edição pela Editora Nórdica, com tradução de Antonio Ramos Rosa e Madalena Rosález. Desde 1998 a renovação dos direitos de cópia (sempre da 1ª edição) passaram a ser de Sabrina A. Bach. A cada edição, no entanto, a tradução se diferencia. O nome do bando das gaivotas de Fernão é denominado Bando de Alimentação; Bando do Pequeno-Almoço, e na edição 2015 Bando do Café da Manhã.

O lançamento da Editora Record, a nova edição 2015 trás a inédita Parte 4, com tradução da primeira parte original de Ruy Jungmann e a tradução da inédita parte 4 por Márcia Alves. Agora a história completa contada por Richard D. Bach. O jovem autor preferiu omitir essa parte triste da história tão bonita. “Não acreditei nele. As três primeiras partes contavam toda a história, pensei. Não havia necessidade da quarta: um céu deserto, palavras desinteressantes para abafar a alegria, ou quase... Não precisava ser publicado.  Então por que não a destruí? Não sei... era a escrita dele, do garoto de então...”. Mas, o velho piloto escritor resolveu contar!



O JOVEM AUTOR CONTOU A HISTÓRIA DE FERNÃO E AS DE OUTRAS GAIVOTAS. E COMO SE DÁ A PASSAGEM DE UMA DIMENSÃO À OUTRA DIMENSÃO. Elas queriam voar tanto, que foram capazes de perdoar os seus bandos, os que as tornaram sem lar e sem rumo, e voltaram para ensiná-los a voar mais alto e mais rápido. Por um certo tempo Fernão e seus instrutores conseguiram, mas... Os bandos das gaivotas do solo não aprenderam a voar. O jovem autor preferiu omitir essa parte triste da história tão bonita. Mas, o velho piloto e escritor resolveu contar. Em 2012 após longo tempo inconsciente e hospitalizado, enquanto convalescia, a sua Sabrina encontra entre velhos papeis o antigo original datilografado e lhe diz sorrindo: lembra disso? Ele responde que “não lembra”, mas, ávido por se rever naquele jovem no tempo longínquo em que escrevera a história. Leu e resolve não encobrir mais. Naquele tempo o futuro ainda estava por chegar. Agora o futuro já chegou. Como estarão agora as gaivotas? Estaríamos nós, gaivotas, assistindo ao final da liberdade em nosso mundo? Dominadas e cegas, adeptas de falsas crenças, impedidas de começar a aprender a voar?

“No seu século XXI, cercado pelas autoridades e pelos rituais, está tudo engatilhado para estrangular a liberdade. Não consegue enxergar? O plano é fazer o seu mundo seguro não livre.” {...} “Meu tempo passou o seu não”. (BACH, 2015, p:131).




PREFÁCIO

Para esta postagem fez-se adaptação de duas edições do livro Fernão Capelo Gaivota.

Para a matéria do contexto do livro Fernão Capelo Gaivota foram utilizadas a técnica de adaptação de texto; ambas as citadas fontes bibliográficas e um site da Internet. Os trechos mais líteropoéticos chamam o bando de Fernão como Bando da Alimentação. É a tradução de Antonio Ramos Rosa e Madalena Rosález, revisão por Jaime Bernardes, Editora Nórdica: Rio de Janeiro, 1976. Capa da foto da postagem. Não há citações de página. Esse livro é encontrado somente em livreiros (sebos) ou em lojas virtuais. Em alguns trechos recorreu-se ao exemplar da editora Record, 2015. Para trechos muito longos, mas necessários recorreu-se ao site da Internet²: http://solucaoperfeita.com/wp-content/uploads/2013/08/Fernao-Capelo-Gaivota.pdf < . Disponibilizam-se a biografia do autor; bibliografia de duas edições do livro Fernão Capelo Gaivota (1976 e 2015); obra literária do autor e acesso virtual a imagens dos livros de Richard Bach. 
 .



Vamos à história!


Para o Fernão Capelo Gaivota Que Vive Dentro de Todos Nós

Era de manhã e o novo sol cintilava nas rugas de um mar calmo. A dois quilômetros da costa um barco de pesca acariciava a água. Subitamente, os gritos do Bando da Alimentação relampejaram no ar e despertaram um bando de mil gaivotas, que se lançou precipitadamente na luta pelos pedacinhos de comida. Amanhecia um novo dia de trabalho. Mas lá ao fundo, sozinho, longe do barco e da costa, Fernão Capelo Gaivota treinava. A trinta metros da superfície azul brilhante, baixou os seus pés com membranas, levantou o bico e tentou... manter suas asas numa dolorosa curva... Cerrou os olhos para se concentrar melhor, susteve a respiração e forçou... Mas as penas levantaram-se em turbilhão, atrapalhou-se e caiu. Como se sabe, as gaivotas nunca se atrapalham, nunca caem. Atrapalhar-se no ar é para elas desgraça e desonra. Mas Fernão Capelo Gaivota, sem se envergonhar, abriu outra vez as asas... e atrapalhando-se outra vez, caiu. Não era um pássaro vulgar.

A MAIOR PARTE DAS GAIVOTAS NÃO SE PREOCUPA EM APRENDER MAIS DO QUE OS SIMPLES FATOS DO VOO, COMO IR DA COSTA À COMIDA E VOLTAR. PARA A MAIORIA O IMPORTANTE NÃO É VOAR, MAS COMER. PARA ESTA GAIVOTA, O IMPORTANTE NÃO ERA COMER, MAS VOAR... Fernão Capelo Gaivota adorava voar. Esta maneira de pensar não o popularizava entre os outros pássaros, como veio a descobrir. Até os próprios pais se sentiam desanimados ao vê-lo passar dias inteiros fazendo centenas de voos rasantes, sozinho. ... Quando começou a planar para pousar na praia com os pés erguidos e em seguida contar em passadas o comprimento do rastro na areia, seus pais ficaram realmente muito desanimados. Por que, Fernão, por quê? Perguntava-lhe a mãe. Por que lhe custa tanto ser como o resto do bando? Por que você não deixa os voos baixos para os pelicanos, para o albatroz? Por que não come? Filho, você está só pena e osso!  Não me importo de estar pena e osso, mãe. Eu só quero saber o que posso fazer no ar e o que não posso... só quero saber isso. Escute, Fernão, disse-lhe o pai com bondade... Se você tem necessidade de estudar, então estude o alimento e como consegui-lo. Não esqueça que a razão por que você voa é comer. Fernão baixou a cabeça, obediente. Nos dias seguintes tentou comportar-se como as outras gaivotas... gritando e lutando como o resto do bando em volta dos pontões e dos barcos de pesca, mergulhando sobre restos de peixe e de pão. Mas não conseguiu. Não faz sentido, pensava ele, largando deliberadamente uma anchova suculenta que lhe custara tanto a ganhar, aos pés de uma velha gaivota esfomeada que o acossava. Não faz sentido. Eu podia ganhar todo esse tempo aprendendo a voar. Há tanto o que aprender!

NÃO TARDOU QUE FERNÃO GAIVOTA VOLTASSE A PAIRAR NO CÉU, SOZINHO, LONGÍNQUO, ESFOMEADO, FELIZ, APRENDENDO!  O TEMA ERA A VELOCIDADE... Tentou... a seiscentos metros lançando-se no mergulho com o bico espetado, as asas bem abertas... Fernão acabava de estabelecer um recorde mundial de velocidade para gaivotas! Mas a vitória durou pouco... e a cento e trinta quilômetros... Fernão Gaivota explodiu a meia altura e esmagou-se num mar duro de tijolo. Quando voltou a si a noite já era velha. Flutuava à superfície negra do oceano, encharcado em luar. As asas eram enormes e esfarrapadas barras de chumbo, mas o fracasso pesava-lhe mais... Desejou que o peso fosse o bastante para o arrastar...e acabar com tudo... Ao afundar-se na água, uma estranha voz cavernosa soou dentro dele. “Não há nada a fazer. Sou uma gaivota. A minha natureza limita-me... Se estivesse destinado a aprender... teria mapas em vez de miolos... Se estivesse destinado a voar a altas velocidades teria asas curtas como o falcão e viveria de ratos em vez de peixes... Devo esquecer esta loucura. Devo regressar ao seio do bando e contentar-me com o que sou, uma pobre e limitada gaivota.”. A voz sumiu-se e Fernão acordou... Uma gaivota passa a noite em terra... A partir desse momento jurou tornar-se uma gaivota normal. Seriam todos mais felizes.. ...grato pelo que aprendera: a forma de poupar trabalho voando a baixa altitude... O que eu era acabou-se... acabou-se tudo o que aprendi... sou uma gaivota como outra qualquer e voarei como uma delas... subiu dolorosamente a trinta metros e bateu as asas com mais força apressando-se a chegar a terra... Daí em diante não haveria mais laços a prendê-lo à força que o levara a aprender... não haveria mais desafios nem mais fracassos... E era bom deixar de pensar, e de voar no escuro em direção às luzes da praia... “Escuro!” A voz irreal estalou em alarme. “As gaivotas nunca voam no escuro!”... Desça!

Se estivesse destinado a voar no escuro você teria olhos de coruja! Teria mapas em vez de miolos! Teria as asas curtas do falcão!”... Fernão Capelo Gaivota pestanejou. A dor e o que havia resolvido desvaneceram-se. Asas Curtas. As asas curtas do falcão!... É isso!... Tudo o que eu preciso é de duas asinhas curtas, tudo o que eu preciso é fechar as asas o mais que puder e voar só com as pontas! Asas curtas!...

E SEM PENSAR...NO FRACASSO OU NA MORTE APERTOU AS ASAS DE ENCONTRO AO CORPO, DEIXOU QUE AS PONTAS DAS ASAS CORTASSEM O VENTO COMO LÂMINAS DE PUNHAL E MERGULHOU NA VERTICAL... A TENSÃO NAS ASAS AGORA QUE SE DESLOCAVA À VELOCIDADE DE DUZENTOS QUILÔMETROS POR HORA NÃO CHEGAVA A SER TÃO FORTE COMO ANTES... E BASTOU-LHE MOVER SÓ UM BOCADINHO A PONTA DAS ASAS... E DISPARAR POR CIMA DAS ONDAS COMO UMA BALA CINZENTA DE CANHÃO APONTADA À LUA... As promessas de momentos antes estavam esquecidas, varridas por aquele enorme vento rápido... “Essas promessas são só para as gaivotas que aceitam o vulgar. Quem conseguiu chegar a excelência da sua aprendizagem não tem necessidade desse tipo de promessa.”... Quando o sol começou a romper, Fernão Gaivota treinava outra vez. Vistos de mil e quinhentos metros, os barcos de pesca eram pontinhos escuros no azul liso da água, e o Bando da Alimentação uma apagada nuvem de átomos de poeira, movendo-se em círculo... (quando se anda em círculo sobre nós mesmos não se vai a lugar nenhum)... Mas a velocidade era poder, e era alegria e beleza pura... Na sua mente latejava o triunfo. Velocidade máxima! Uma gaivota a trezentos e vinte quilômetros por hora! Era uma vitória, o maior momento da história do bando... Voando para a sua solitária zona de treino, encolhendo as asas para um mergulho de dois mil e quatrocentos metros, dispôs-se a descobrir como virar... Descobriu o “loop”, o “slow rooll”, o “point rooll”, o “inverted spin”, o “gull bunt”, o “pinwheel”... (Nota: estes termos designam movimentos de acrobacia aeronáutica). ... Podemos, pensou,  subtrair-nos à ignorância, podemos encontrar-nos como criaturas excelentes, inteligentes e hábeis. Podemos ser livres! Podemos aprender a voar!....


BANIDO! EXPULSO!: AS GAIVOTAS ESTAVAM REUNIDAS EM CONSELHO DO BANDO QUANDO ELE ATERROU... NA REALIDADE ESTAVAM À ESPERA DELE. – Fernão Capelo Gaivota! É chamado ao centro! As palavras do Mais Velho foram pronunciadas no tom solene. Ser chamado ao centro só podia significar grande vergonha ou grande honra... era a maneira como eram decididas as leis dos principais chefes das gaivotas. Claro, pensou, o Bando da Alimentação esta manhã viu o triunfo. Mas eu não quero honras. Não me interessa ser chefe. Só quero partilhar o que descobri, mostrar a todos estes horizontes que estão à nossa frente.

AVANÇOU UM PASSO. – FERNÃO GAIVOTA, DISSE O MAIS VELHO, É CHAMADO AO CENTRO POR VERGONHA AOS OLHOS DAS GAIVOTAS, SUAS SEMELHANTES! FOI COMO SE LHE BATESSEM COM UMA TABOA. Os joelhos enfraqueceram-lhe, as penas tombaram-lhe, um enorme rugido ensurdeceu-o... – pela sua desastrada irresponsabilidade, entoava a voz solene – , por violar a dignidade e a tradição da família das gaivotas! . Ser chamado ao centro por vergonha significava que seria banido da sociedade das gaivotas, desterrado para uma vida solitária nos Penhascos Longínquos. ... Uma gaivota nunca contesta o Conselho do Bando, mas a voz de Fernão ergueu-se gritando: ... Meus irmãos! ... deixem-me mostrar-lhes o que descobri! O bando mostrou-se impenetrável como a pedra. – Quebrou-se a irmandade – entoaram em conjunto todas as gaivotas, e, em perfeito acordo, taparam solenemente os ouvidos e viraram-lhe as costas. ...


FERNÃO GAIVOTA PASSOU O RESTO DOS SEUS DIAS SOZINHO, MAS VOOU MUITO ALÉM DOS PENHASCOS LONGÍNQUOS. A solidão não o entristecia. ... Aprendia cada vez mais. ... O que outrora desejara para o bando tinha-o agora só para si. Aprendera a voar e não lamentava o preço que pagara por isso. Fernão Gaivota descobriu também que o tédio, o medo e a ira são as razões por que a vida de uma gaivota é tão curta, e, sem isso a perturbar-lhe o pensamento, viveu de fato uma vida longa e feliz. ...


É PRECISO MAIS DE MIL VIDAS, E MAIS CEM MIL VIDAS, E MAIS DUZENTAS MIL VIDAS PARA ISSO. MAS FERNÃO CHEGOU RÁPIDO E FÁCIL À DIMENSÃO-ESCOLA. VIERAM À NOITE, E ENCONTRARAM FERNÃO DESLIZANDO TRANQUILAMENTE E SOZINHO PELO SEU QUERIDO CÉU. As duas gaivotas que surgiram junto às suas asas eram puras como a luz das estrelas e o brilho que delas se desprendia era leve e afável no éter noturno. Mas, o mais encantador era... as pontas das asas movendo-se a um centímetro exato e constante das suas. (levando-o de mãos dadas). Sem uma palavra, Fernão submeteu-as ao teste... (Fernão faz como em vida faria alegremente, com uma das suas irmãs ao encontrá-las no ar)... Os dois pássaros, irradiantes, deslizaram com ele... Sabiam voar devagar. ... Giraram com ele, sorrindo. Regressou ao voo planado e esperou algum tempo antes de falar. – “Muito bem. Quem são vocês?” – “Nós somos do seu bando, Fernão. Somos suas irmãs.” – As palavras eram fortes e calmas. – “Viemos para levar você para mais alto, para levá-lo para casa.”. – Eu não tenho casa. Nem tenho bando. Fui banido. ... Já não posso elevar este velho corpo além dumas centenas de metros. – “Você pode sim, Fernão. Porque aprendeu. Acabou-se uma escola e chegou a hora de começar outra.”. O entendimento raiou nesse momento para  Fernão Gaivota, tal como o iluminara sempre em toda a sua vida... Ele podia voar mais alto e era tempo de ir para casa. Lançou um último longo olhar pelo céu, por aquela magnífica terra prateada onde aprendera tanto. – Estou pronto – disse por fim. E Fernão Capelo Gaivota elevou-se com as duas gaivotas brilhantes como estrelas para desaparecer num céu...


“ENTÃO O PARAÍSO É ISTO?”. Pensou, e teve de rir de si próprio. Não era muito respeitoso analisar o paraíso precisamente quando se estava voando para entrar nele. Enquanto se afastava da terra e ultrapassava as nuvens, em formação com as duas gaivotas brilhantes, notou que o seu corpo se tornava tão brilhante como os delas. Em realidade, era o mesmo Fernão Capelo Gaivota que sempre vivera por detrás dos olhos dourados. Só a forma exterior se modificara. Era o corpo de uma gaivota, mas voava muito melhor do que o antigo jamais voara.É maravilhoso, pensava, com metade do esforço consigo o dobro da velocidade; o dobro da eficiência dos meus melhores dias na terra!”. As penas luziam agora num branco radiante e as asas eram lisas e perfeitas como folhas de prata polida. Deliciado, começou a aprender a conhecê-las, a incutir potência a essas novas asas... As nuvens romperam-se, a escolta gritou-lhe “Feliz aterragem, Fernão!” e evaporou-se num ar fino. Voava sobre um mar em direção a uma linha áspera da costa. Muito poucas gaivotas treinavam... Nos penhascos. ... Novas paragens, novos pensamentos, novas perguntas.


“POR QUE TÃO POUCAS GAIVOTAS? O PARAÍSO DEVIA ESTAR PEJADO DE GAIVOTAS! E por que... de repente fiquei tão cansado? As gaivotas no paraíso nunca devem cansar-se, nem dormir.”. Onde é que ouvira isso? A lembrança da sua vida na terra sumia-se... Os pormenores estavam esmaecidos – qualquer coisa, como lutar por comida e ser banido. A dúzia de gaivotas que treinava junto à costa veio ao seu encontro, sem pronunciar palavra. Sentiu apenas que era bem-vindo e que esta era a sua casa. Tinha sido um grande dia para ele, um dia cuja aurora já não recordava... As outras gaivotas também aterraram, mas nenhuma delas moveu uma única pena. Esvoaçaram no vento com as asas brilhantes bem abertas e, modificando depois a curva das penas, pararam exatamente na mesma altura em que os pés tocaram no chão. Era um controle magnífico, mas, Fernão estava demasiado cansado para experimentar. Adormeceu mesmo na praia, sem que tivesse pronunciado uma palavra.

NOS DIAS QUE SE SEGUIRAM, FERNÃO VERIFICOU QUE HAVIA TANTO A APRENDER SOBRE O VOO COMO HOUVERA NA VIDA QUE DEIXARA PARA TRÁS. Mas com uma diferença. Aqui havia gaivotas que pensavam como ele. Para cada uma delas, a coisa mais importante da vida era andar em frente atingir a perfeição naquilo que mais gostavam de fazer, que era voar. Eram aves magníficas todas elas, e passavam hora após hora, diariamente, praticando voos, ou experimentando técnicas aeronáuticas avançadas. Durante muito tempo Fernão esqueceu-se do mundo onde vivia... Mas, de vez em quando, e só por um momento lembrava-se. Lembrou-se numa manhã que saíra com o instrutor, enquanto as outras gaivotas descansavam na praia, após uma sessão de voos de asa dobrada. - Onde estão os outros, Henrique? – perguntou, em silêncio, já familiarizado com a telepatia que as gaivotas utilizavam em vez de gritos e guinchos. - Por que somos tão poucos aqui? Lá do lugar de onde venho existem milhares e milhares de gaivotas. Eu sei,- Henrique abanou a cabeça – A única resposta que encontro Fernão, é que você é um pássaro especial num milhão.


 A MAIOR PARTE DE NÓS PERCORREMOS UM LONGO CAMINHO. FOMOS DE UM MUNDO PARA O OUTRO QUE ERA QUASE IGUAL AO PRIMEIRO, SEM NOS PREOCUPARMOS COM O DESTINO, VIVENDO O MOMENTO. Fazes alguma ideia de quantas vidas teremos de viver antes de compreendermos que há coisas mais importantes do que comer, lutar ou disputar o poder do Bando? Mil vidas Fernão, dez mil vidas! E, depois, mais cem vidas até começarmos a aprender que a perfeição existe, e outras cem para constatar que o nosso objetivo na vida é conseguir a perfeição e colocá-la em prática. A mesma regra se aplica, agora, a nós: escolhemos o nosso mundo através do que aprendemos neste. Se não aprendermos nada, então o próximo mundo será igual a este, com as mesmas limitações e pesos de chumbo... - Mas você, Fernão – continuou -, aprendeu tanto de uma só vez que não precisou viver mil vidas para chegar a esta. Instantes depois se encontravam de novo no ar, treinando... – vamos tentar outra vez! Repetia Henrique, incansável...


Revendo a Terra: ... UMA NOITE, AS GAIVOTAS QUE NÃO PRATICAVAM VOO NOTURNO ENCONTRAVAM-SE JUNTAS, NA PRAIA, para pensar. FERNÃO REUNIU TODA A SUA CORAGEM E DIRIGIU-SE À MAIS VELHA, QUE, DIZIA-SE, EM BREVE PASSARIA PARA OUTRO MUNDO. - Chiang… - começou ele, um pouco  nervoso. A velha gaivota olhou-o com bondade. - Diga, meu filho. Em vez de enfraquecido pela idade o Mais Velho era o mais forte; batia qualquer gaivota do Bando e aprendera práticas que as outras começavam naquele momento a aprender. - Chiang, este mundo não é o paraíso, é? O Mais Velho sorriu ao luar. - Estás aprendendo outra vez, Fernão Gaivota – respondeu. - Bem, mas que acontece depois? Para onde vamos? Não há um lugar chamado paraíso? - Não, Fernão, o paraíso não existe. O paraíso não é um lugar, nem um tempo. O paraíso é sermos perfeitos. Ficou calado durante alguns momentos. - Você voa com muita velocidade, não voa? - Eu… eu gosto da velocidade – disse Fernão, surpreendido, mas orgulhoso, por o Mais Velho ter reparado, - Vai começar a se aproximar do paraíso, Fernão, no momento em que atingires a velocidade perfeita. E isso não é voar a mil e quinhentos quilômetros por hora, nem a um milhão, nem à velocidade da luz. É que nenhum número é um limite e a perfeição não tem limites. A velocidade perfeita, meu filho, é estar ali. Sem avisar, Chiang sumiu-se e apareceu junto à água, a uma distância de quinze metros, por um breve instante. Depois, voltou a desaparecer e pairou, por uma fração de segundos, ao lado de Fernão. - É engraçado – disse. Fernão ficou atordoado. Esqueceu-se de fazer as perguntas sobre o paraíso. - Como se faz isso? Qual a sensação? Até onde se pode ir? - Desde que o desejes, podes ir a qualquer lugar, em qualquer momento – disse o Mais Velho. – Fui a todos os lugares sempre que quis. Olhou o mar. - É estranho. As gaivotas que desprezam a perfeição pelo prazer de voar, não vão a parte alguma, lentamente. Aquelas que trocam o prazer de voar pela perfeição, vão a qualquer parte, instantaneamente. Lembra-te Fernão, o paraíso é… - Pode ensinar-me a voar assim? Fernão Gaivota tremia de ansiedade por reconquistar o desconhecido. - Claro, desde que queiras aprender. - Quero, sim. Quando podemos começar? - Podemos começar agora, se tu quiseres. - Quero aprender a voar assim – disse Fernão, e um brilho estranho assomou aos seus olhos. - Diga-me o que tenho de fazer. Chiang falou pausadamente, observando com atenção a jovem gaivota.

PARA VOARES TÃO DEPRESSA QUANTO O PENSAMENTO PARA ONDE QUER QUE SEJA – DISSE -, DEVE COMEÇAR POR TOMAR CONSCIÊNCIA DE QUE JÁ CHEGOU... O truque, segundo Chiang, estava em Fernão deixar de se ver preso dentro de um corpo limitado, cujas asas abertas abrangiam um metro e cuja perícia poderia ser traçada num mapa. O trunfo consistia em tomar consciência de que a sua verdadeira natureza vivia, tão perfeita como um número por escrever, em todo o lado e ao mesmo tempo através do espaço e do tempo. Fernão empenhou-se a fundo, dia após dia, desde antes de o Sol nascer até depois da meia noite. Mas, apesar do seu esforço, não se conseguia deslocar um milímetro do local onde se encontrava.
- ESQUEÇA A FÉ – DIZIA-LHE CHIANG, SEM CESSAR. NÃO PRECISOU DE FÉ PARA VOAR. ISTO É A MESMA COISA. AGORA TENTE OUTRA VEZ… Então, um dia em que Fernão estava junto à costa, de olhos fechados em concentração percebeu de repente o que Chiang tentara dizer-lhe. - Mas é verdade! Eu sou perfeito, sou uma gaivota sem limites! Sentiu-se inebriado de alegria. - Muito bem! – disse Chiang, com voz triunfante. Fernão abriu os olhos. Estava sozinho com o Mais Velho, numa costa completamente diferente: árvores à beira-mar, dois sóis gêmeos girando sobre as suas cabeças. - Finalmente, conseguiu entender a ideia – disse Chiang -, mas tens que aperfeiçoar mais com o controle. Fernão estava confuso. - Onde estamos? Sem se impressionar com o que o rodeava, o Mais Velho não deu importância à resposta. - Estamos num planeta qualquer, com um céu verde e uma estrela dupla por sol. Fernão soltou um grito de alegria, o primeiro som que emitia desde que abandonara a Terra. - Funcionou! - Claro que deu, funcionou, Fernão – disse Chiang. Funciona sempre, quando se sabe o que se está fazendo. Agora, quanto à questão do controle…


QUANDO REGRESSOU JÁ ERA ESCURO. AS OUTRAS GAIVOTAS OLHARAM PARA FERNÃO, COM INVEJA NOS SEUS OLHOS DOURADOS, POIS TINHAM-NO VISTO DESAPARECER DO LOCAL ONDE SE MANTINHA HAVIA TANTO TEMPO. Ouviu a felicitações durante menos de um minuto. - sou o mais novo aqui. Estou agora a começar. Sou eu que tenho de aprender com vocês. - Duvido – disse Henrique, ali próximo. – Tens menos receio de voar do que qualquer gaivota que conheci em dez mil anos. O Bando ficou em silêncio e Fernão sentiu-se embaraçado. - Podemos começar a trabalhar com o tempo, se quiseres – disse Chiang, até você conseguir voar através do passado e do futuro. E, então, você estará preparado para começar a voar alto e saber o significado das palavras bondade e amor.
PASSOU-SE UM MÊS, OU ALGO QUE SE ASSEMELHAVA A UM MÊS, E FERNÃO APRENDEU UM RITMO IMPRESSIONANTE. SEMPRE APRENDERA DEPRESSA AS COISAS VULGARES, E, AGORA, COMO ALUNO ESPECIAL DO PRÓPRIO MAIS VELHO, APRENDIA NOVAS IDEIAS COMO UM COMPUTADOR DE PENAS. Mas chegou o dia em que Chiang desapareceu. Conversara calmamente com todos, exortando-os a não deixarem de aprender nem de treinar, e a lutarem para melhor compreenderem o perfeito e invisível princípio de toda a vida. Então, enquanto falava, as suas penas tornaram-se brilhantes, até que por fim nenhuma gaivota conseguia suportar o brilho. - Fernão – disse ele, e foram estas as últimas palavras que pronunciou, continue a trabalhar o amor. Quando puderam ver de novo, Chiang já tinha desaparecido.
À medida que os dias corriam, Fernão ficava pensando cada vez mais na Terra, de onde viera. Se lá tivesse sabido um décimo que fosse do que aprendera ali, como a vida teria tido outro significado! Deixou-se ficar ali na areia pensando se haveria lá alguma gaivota tentando ultrapassar os seus limites, ou tentando perceber que o voo era mais que um meio para arrancar uma migalha de pão de um barco. Talvez até houvesse alguma banida por ter falado a verdade perante o Bando.
E QUANTO MAIS FERNÃO TREINAVA A BONDADE, QUANTO MAIS SE ESFORÇAVA POR CONHECER A NATUREZA DO AMOR, MAIS ANSIAVA POR REGRESSAR A TERRA. APESAR DO SEU PASSADO SOLITÁRIO, FERNÃO GAIVOTA NASCERA PARA SER INSTRUTOR, E A SUA FORMA DE DEMONSTRAR AMOR ERA PARTILHAR ALGO DA VERDADE QUE ELE PRÓPRIO DESCOBRIRA, como uma gaivota que pedisse uma oportunidade para alcançar essa verdade. Henrique, agora adepto do voo velocidade pensamento e ocupado em ajudar os outros para aprenderem, tinha as suas dúvidas. - Fernão, tu já foste banido uma vez. Que o leva a pensar que as gaivotas do seu tempo te poderiam dar agora ouvidos? Conheces o provérbio e é bem verdade: Vê mais longe a gaivota que voa mais alto. As gaivotas lá de onde vieste estão pousadas no chão, gritando e lutando umas com as outras. Encontram-se a mil e quinhentos quilômetros do paraíso, e, tu, ainda dizes que lhe queres mostrar o paraíso! Fernão, elas nem sequer conseguem enxergar as pontas das próprias asas! Fica aqui. Ajude as gaivotas daqui, aquelas que já estão preparadas para entenderem o que tens para lhes dizer. – Ficou calado durante um momento e, depois disse: - E se Chiang tivesse regressado aos seus velhos mundos? Onde estarias tu hoje? A última frase foi significativa, e Henrique tinha razão. Vê mais longe a gaivota que voa mais alto. E Fernão ficou, trabalhando com os novos pássaros que chegavam, que eram todos espertos e rápidos na aprendizagem.
MAS O VELHO SENTIMENTO VOLTOU, E ELE NÃO CONSEGUIU DEIXAR DE PENSAR QUE PODERIA HAVER NA TERRA UMA OU DUAS GAIVOTAS QUE TAMBÉM QUISESSEM APRENDER. Quanto mais não teria ele aprendido se tivesse conhecido Chiang no dia em que foi banido! - Henrique, tenho que regressar – disse, por fim. - Os teus aprendizes vão muito bem. Poderão ajudar-te a ensinar os que chegarem. Henrique suspirou, mas não discutiu. - Vou sentir a sua falta, Fernão – foi tudo quanto disse. - Henrique, que é isso? – exclamou Fernão, reprovador. – Não sejas tolo! Afinal, o que tentamos nós aperfeiçoar todos os dias? Se a nossa amizade está dependente de coisas como o espaço e o tempo, quando finalmente os ultrapassarmos, teremos destruído a nossa irmandade. Ultrapassando o espaço, tudo o que nos resta é Aqui.
ULTRAPASSANDO O TEMPO, TUDO O QUE NOS RESTA É AGORA. E ENTRE O AQUI E O AGORA, NÃO ACHAS QUE NOS PODEMOS ENCONTRAR UMA OU DUAS VEZES? Henrique Gaivota sorriu, mesmo sem querer. - É um pássaro muito louco – disse gentilmente. – Se existe alguém capaz de mostrar a um pássaro no chão como ver a mil e quinhentos quilômetros de distância, esse alguém é Fernão Capelo Gaivota. Olhou para a areia, e depois disse: - Adeus, Fernão, meu amigo - Adeus, Henrique. Voltaremos a encontrar-nos.
E DITO ISTO, FERNÃO FIXOU NO PENSAMENTO A IMAGEM DE ENORMES BANDOS DE GAIVOTAS NA COSTA DE OUTROS TEMPOS, E APERCEBEU-SE COM FACILIDADE QUE NÃO ERA SÓ OSSOS E PENAS, MAS UMA IDEIA PERFEITA DE LIBERDADE E VOOS, SEM LIMITES...

O PRIMEIRO ALUNO DE FERNÃO CAPELO NA VOLTA (O REVOLTADO) Francisco Coutinho Gaivota ainda era muito jovem, mas já sabia que nunca nenhum pássaro fora tratado pelo Bando com tanta severidade e com tanta injustiça. «Não me interessa o que eles dizem», pensou, voava em direção aos Penhascos longínquos. «Voar é muito mais que bater asas de um lado para o outro! Um …um…mosquito faz isso!» Uma gracinha à frente do Mais Velho e serei banido. Estarão cegos? Não conseguirão ver? Não se aperceberão da glória que será quando aprendermos realmente a voar? «Não me interessa o que eles pensam. Mostrar-lhes-ei o que é voar. Serei um banido, se é isso que eles querem. E farei que se arrependam…» A voz surgiu de dentro da sua própria cabeça, e embora fosse muito suave, sobressaltou-o tanto que vacilou e quase tropeçou no ar. Não seja duro com eles Francisco Gaivota. Ao lhe expulsarem, as outras gaivotas só fizeram mal a si próprias, e um dia compreenderão isto, e um dia verão o que tu vês agora. Perdoa-lhes e as ajude a compreender. A um centímetro da ponta da sua asa direita voava a gaivota branca mais brilhante que ele já vira, deslizando sem esforço, sem mover uma única pena, a uma velocidade que se aproximava da máxima de Francisco. O jovem pássaro ficou por momentos atordoado. - Que se passa? Estarei louco? Estarei morto? Que é isto? Baixa e calma, a voz prosseguiu dentro dos seus pensamentos exigindo uma resposta. Francisco Coutinho Gaivota, queres voar? - SIM, QUERO VOAR! – Francisco Coutinho Gaivota, a sua vontade de voar é tão grande que estás disposto a perdoar ao Bando e a aprender, e a voltar um dia para junto deles a fim de os ensinares? Era impossível mentir àquele maravilhoso ser, por muito orgulhoso ou magoado que Francisco Gaivota se sentisse. - Quero – disse suavemente. - Então Francisco, disse-lhe a brilhante criatura, com a voz cheia de bondade -, vamos começar  com o voo planado...

(No Tempo). Fernão voou em círculo, devagar, sobre os Penhascos Longínquos, observando. Este duro jovem Francisco Coutinho Gaivota aproximava-se muito de um perfeito aluno de voo. Era forte, leve e rápido no ar, mas muito mais importante que isso era o ritmo vertiginoso com que  aprendia a voar. Ali vinha ele agora, turva forma cinzenta troando  à saída de um mergulho, a duzentos quilômetros por hora, passando como um relâmpago à frente do seu instrutor. TENTE, MAS TENTE COM SUAVE VONTADE. NÃO AO DESESPERADO DESEJO. Abruptamente, lançou-se noutra tentativa, um slow roll vertical de dezesseis pontos, fazendo a contagem bem alto. - ... oito...nove... ... catorz...aaaaaahh!!. A atrapalhação de Francisco no topo foi como uma chicotada, foi o pior que poderia ter lhe acontecido, e enfureceu-se por ter falhado. Caiu para trás aos trombolhões, desabou selvaticamente num inverted spin e acabou por se recuperar, ofegante, trinta metros abaixo do nível do seu instrutor. – Você perde o seu tempo comigo, Fernão! Sou tapado demais! Sou estúpido demais! Tento e volto a tentar, mas não conseguirei! Fernão Gaivota era o instrutor dele e concordou. – Você nunca o conseguirá, é certo, se continuar a fazer arranque com essa brusquidão ... Tem de ser suave! Firme, mas suave, compreende? Fernão desceu ao nível da gaivota mais nova. – Agora vamos tentar juntos, em formação. E preste atenção ao arranque. É suave, fácil.

AO CABO DE TRÊS MESES FERNÃO TINHA MAIS SEIS DISCÍPULOS, TODOS BANIDOS, (e todos com esta estranha ideia de querer voar). – Cada um de nós é, em realidade, uma ideia da Grande Gaivota, uma ideia ilimitada de liberdade – costumava dizer-lhes Fernão à noite, quando se reuniam na praia quando os treinos acabavam. ... Temos de por de parte tudo o que nos limita... – Todo o corpo de vocês, da ponta de uma asa à outra, ...é seus próprios pensamentos, numa forma que podem ver. Quebrem as correntes dos seus pensamentos e conseguirão quebrar as correntes do corpo.... ...  Mas, nenhum deles, nem mesmo Francisco Coutinho Gaivota (tão afoito quanto ressentido) chegara ainda a crer que o voo de ideias pudesse de fato ser tão real como o voo de vento e penas. (Mas o que escutavam do bico de Fernão – seu instrutor, soavam-lhes como estórias agradáveis e o pequeno bando de alunos gaivotas dormia de tão cansados na noite calma).

FERNÃO CAPELO GAIVOTA MAIS UMA VEZ VAI ALÉM DO ESTABELECIDO E “DESOBEDECE”. ... Um mês depois Fernão disse que era tempo de voltar ao bando. – Mas não estamos prontos! – disse João Calvino Gaivota, e não nos desejam! Estamos banidos! Não podemos forçar-nos a ir aonde não somos aceitos! Não é?!
- Nós somos livres para ir aonde nós quisermos e sermos o que somos, replicou Fernão.... ... A angústia reinou por momentos entre os seus alunos, pois segundo a lei do bando, nenhum banido regressa, e a lei não fora quebrada em dez mil anos. A lei dizia: fiquem. Fernão dizia: vão. ... ... ... E nesta altura já ia a mais de um quilômetro de distância sobrevoando a água! Se esperasse mais Fernão Capelo enfrentaria sozinho o bando hostil! .... ... ...
- Bem, já que não fazemos parte do bando não temos que nos submeter à lei, disse Francisco Gaivota timidamente. – Além disso, se houver luta seremos mais úteis lá do que aqui.
E assim, oito gaivotas voaram do oeste nessa manhã, em dupla formação de diamante, as pontas das asas quase sobrepondo-se. Atravessaram a Praia do Conselho do Bando a mais de duzentos quilômetros por hora: Fernão à frente, Francisco suavemente à sua direita, João Calvino lutando com o vento, brincalhão, à sua esquerda. Então, toda a formação rolou suavemente para a direita, como um único pássaro. Planando, invertendo, planando, o vento chicoteando-os todos por cima.

OS GRITOS E OS GUINCHOS ... CESSARAM DE REPENTE, COMO SE A FORMAÇÃO FOSSE UMA ESPADA GIGANTE, E NÃO OITO, MAS OITO MIL OLHOS DE GAIVOTAS OBSERVARAM SEM PESTANEJAR, TODOS DE UMA SÓ VEZ. Um a um, os oito pássaros lançaram-se abruptamente para cima, fazendo um loop completo, descreveram uma curva perfeita e deixaram-se cair lentamente até aterrarem na areia, de pé. Então, tal como se o acontecimento fosse uma coisa de todos os dias, Fernão Gaivota iniciou a sua crítica do voo. – Para começar, disse com um sorriso zombeteiro, –  demoraram um bocado a juntar-se a mim...

FOI COMO SE UM RELÂMPAGO PERCORRESSE O BANDO. Aqueles pássaros eram banidos! E tinham regressado! ... As predições  quanto a haver luta fundiram-se na confusão do bando.... é certo que são banidos, - disse uma das gaivotas mais novas -  mas, caramba! Onde eles aprenderam a voar dessa maneira?! A palavra do Mais Velho ... percorreu o bando: “Ignorem-nos. A gaivota que falar a um banido será banida”.  “A gaivota que olhar para um banido quebrará a lei do bando”.
Costas de penas cinzentas viraram-se ao bando de Fernão...  mas, ele fez que não havia notado. Deu as sessões de treino precisamente sobre a Praia do Conselho, e ... instigava os seus alunos até o limite das suas capacidades.
- Martinho Gaivota! – gritou através do céu – Você diz que sabe voar a baixa velocidade. Não sabe nada até o provar! Voe!
Foi assim que o calado Martinho Gaivota, sobressaltado pelo fogo que o seu instrutor lhe ateara, surpreendeu a si próprio tornando-se um especialista em baixas velocidades.
... Do mesmo, Rolando Gaivota sobrevoou o pico da Grande Montanha do Vento a sete mil e duzentos metros...
... A todo o momento, lá estava Fernão ao lado de cada um de seus discípulos, demonstrando, sugerindo, instigando, conduzindo. Voou com eles através da noite, da nuvem e da tempestade, por puro prazer, enquanto o Bando do Solo se encolhia miseravelmente, no chão. ...

... GRADUALMENTE, À NOITE, COMEÇOU A FORMAR-SE A FORMAR-SE OUTRO CÍRCULO À VOLTA DOS ALUNOS DE FERNÃO. Um círculo de gaivotas curiosas que escutavam durante horas a fio, desejando não ver e nem ser vista por outras de seu bando, e desvanecendo-se na meia luz que antecede a aurora.

FOI UM MÊS DEPOIS... A PRIMEIRA GAIVOTA... PEDIU PARA APRENDER A VOAR. Ao fazê-lo, Teseu Sousa Gaivota passou a ser um pássaro condenado, portador de uma etiqueta que dizia: “Banido”. E passou a ser o oitavo aluno de Fernão.
Na noite seguinte foi Virgilio Gaivota quem deixou o seu bando. Aproximou-se cambaleante, arrastando a asa esquerda pela areia, e caiu aos pés de Fernão. – Ajude-me, pediu-lhe baixinho, com a voz daquele que está morrendo. – Mais do que tudo no mundo eu quero voar! ... Venha, disse Fernão. – Eleve-se comigo e comecemos.

- Você não compreende. A minha asa. Não consigo mexê-la. – Virgilio Gaivota, você tem a liberdade de ser você mesmo. De ser o seu próprio eu, aqui e agora, e não há nada que possa interpor-se no seu caminho. Essa é a Lei da Grande Gaivota. A lei que é.

 – VOCÊ QUER DIZER QUE EU POSSO VOAR? – DIGO QUE VOCÊ É LIVRE. Tão simples e rapidamente como fora dito, Virgilio Gaivota abriu as asas, sem esforço, e rasgou o ar negro da noite. A cento e cinquenta metros de altura gritou o mais alto que pôde e o seu grito arrancou o bando do sono que o entorpecia. – Eu posso voar! Ouçam! Eu posso voar!

QUANDO O SOL SURGIU NO HORIZONTE HAVIA QUASE MIL PÁSSAROS EM VOLTA DO CÍRCULO DE ALUNOS, olhando curiosamente para Virgilio. Pouco lhes importava serem vistos ou não, e escutavam, tentando compreender, Fernão Gaivota. ... Falou de coisas muito simples. – Que as gaivotas têm o direito de voar; que a liberdade é própria da sua natureza; que todo aquele que se oponha a essa liberdade deve ser posto de parte, quer a oposição seja motivada por ritual, superstição, ou limitação sob qualquer forma.
- Pôr de parte? – gritou uma voz entre a multidão. – Mesmo se for a lei do bando?
- Só a lei que conduz à liberdade é verdadeira – disse Fernão. Não há outra.

- Como você pode esperar que voemos como você? – interrogou outra voz. – Você é especial, dotado e divino, muito acima dos outros pássaros.
- Olhem para Francisco! Teseu! Rolando! São também especiais, dotado se divinos? Não mais do que vocês, não mais do que eu. A única diferença, a única de fato, é que eles começaram a compreender o que são realmente e decidiram pôr em prática esse conhecimento. ...
... A multidão crescia de dia para dia; vinham fazer perguntas, idolatrá-lo ou injuriá-lo.

- Dizem no bando que, se você não é o filho da própria Grande Gaivota, tem um avanço de mil anos em relação ao nosso tempo – contou Francisco a Fernão numa certa manhã, depois do treino de velocidade avançada. Fernão suspirou. “O preço de ser incompreendido”, pensou. “Ser classificado de diabo ou de  deus”.

– E VOCÊ, O QUE PENSA CHICO? ESTAMOS AVANÇADOS EM RELAÇÃO AO NOSSO TEMPO?  Houve um grande silêncio. – Bem, esta maneira de voar sempre esteve ao alcance de quem a quisesse descobrir. Não tem nada a ver com o tempo. Talvez estejamos avançados em relação à moda. Avançados em relação à maneira como voa a maior parte das gaivotas. – Isso já é qualquer coisa, disse Fernão - ... É bem melhor do que estar avançado em relação ao nosso tempo.

AGORA, FRANCISCO GAIVOTA ERA O INSTRUTOR DOS ALUNOS NOVOS. Aconteceu... uma semana depois. ... estava demonstrando os elementos do voo a alta velocidade a uma classe de novos alunos. Acabava de sair de um mergulho de dois mil metros, ... quando uma gaivota que voava pela primeira vez entrou diretamente no seu caminho, chamando pela mãe. Dispondo apenas de um décimo de segundo para se desviar do novato, Francisco Gaivota atirou-se violentamente para a esquerda, a qualquer coisa parecida com trezentos quilômetros por hora, contra um rochedo de sólido granito.

PARA ELE FOI COMO SE A ROCHA FOSSE UMA PORTA DURA E GIGANTESCA PARA UM OUTRO MUNDO. Sentiu-se invadido por uma onda de medo, de choque e de escuridão. ... Depois, flutuou num céu estranho, estranhíssimo, esquecendo, lembrando, esquecendo, com medo, dor e tristeza, uma imensa tristeza.

A VOZ CHEGOU-LHE COMO NO PRIMEIRO DIA EM QUE ENCONTRARA FERNÃO CAPELO GAIVOTA. O truque, Chico, é que devemos tentar ultrapassar as nossas limitações progressiva e pacientemente. Voar através de rochas já faz parte de um programa mais avançado.
– Fernão! Também conhecido por filho da Grande Gaivota! ... O que você faz aqui? A rocha! Eu, eu, eu não, não, não morri?
- Oh! Vamos, Chico, pense. Se você está falando comigo neste momento é porque, como é óbvio, não morreu, não acha?

O QUE VOCÊ CONSEGUIU FAZER FOI MODIFICAR O SEU NÍVEL DE CONSCIÊNCIA DE MODO UM POUCO BRUSCO. AGORA VOCÊ A LIBERDADE DE ESCOLHER: ou ficar aqui e aprender neste nível que... é bem mais evoluído do que o que você deixou, ou regressar e continuar trabalhando com o bando. ... – Quero voltar para o bando, é claro. Mal comecei a treinar o novo grupo!
- Muito bem, Francisco. Você se lembra do que dissemos acerca de o nosso corpo não ser mais do que o próprio pensamento?

 

Francisco abanou a cabeça, abriu as asas e descerrou os olhos, junto da base do rochedo onde se juntara todo o bando. Da multidão ergueu-se um enorme clamor de gritos e guinchos quando o viram mexer-se pela primeira vez.
- Está vivo! Estava morto e vive!
- Tocou-o com a ponta de uma asa! Trouxe-o à vida! É o filho da Grande Gaivota!
- Não, ele nega-o! É o demônio! O demônio! Veio para semear a discórdia entre o bando!
Havia quatro mil gaivotas na multidão, amedrontadas pelo que acontecera, e o grito ‘demônio!’ percorreu-as como o vento de uma tempestade marítima. De olhos vidrados e bico afiado avançaram unidas, prontas a destruir.
- VOCÊ SE SENTIRIA MELHOR SE PARTÍSSEMOS FRANCISCO?  - PERGUNTOU FERNÃO.
- Não poria muitas objeções se o fizéssemos, respondeu Francisco. Instantaneamente, fixaram-se ambos a oitocentos metros, e os bicos vibrantes da multidão fecharam-se no vazio.
Por que será – interrogou-se Fernão – que a coisa mais difícil do mundo é convencer um pássaro de que é livre e de que pode prová-lo a si próprio se se dedicar a treinar um pouco? Por que será tão difícil?
Francisco ainda pestanejava devido à mudança de cenário.
- O que você fez? Como viemos parar aqui?
- Você não disse que queria sair do meio da multidão?
- Disse, mas como é que você...
- Como todo o resto, Francisco. Treino.

QUANDO A MANHÃ SURGIU, O BANDO JÁ ESQUECERA A SUA LOUCURA.  MAS FRANCISCO RECORDAVA.
- Fernão, você se lembra do que disse há já muito tempo, acerca de amar o bando o bastante para voltar a ele e ajudá-lo a aprender?
- Claro que me lembro!
(e Francisco diz) – Não compreendo como você consegue amar um punhado de pássaros que acabam de tentar matá-lo.
- Oh! Chico! Não é isso que voce ama! Voce não ama o ódio e o inferno, é claro.

VOCÊ TEM DE TREINAR ATÉ VER A VERDADEIRA GAIVOTA, O QUE HÁ DE BOM EM CADA UMA DELAS, E AJUDÁ-LAS A VER ISSO NELAS PRÓPRIAS. PARA MIM O AMOR É ISSO. Quando você compreender e pôr isso em prática até achará divertido. “Lembro-me de um jovem pássaro impetuoso, por exemplo, chamado Francisco Coutinho Gaivota. Acabava de ser banido; estava pronto a lutar com o bando até à morte e começou por construir o seu próprio inferno amargo nos domínios dos Penhascos Longínquos. E aqui está ele hoje, construindo o seu próprio paraíso em vez do inferno, e guiando todo o bando nessa direção”.
Francisco virou-se para o seu instrutor e houve um momento de medo no seu olhar.
- Eu, guiando-os? Que você quer dizer com isso? Você é o instrutor. Não pode ir-se embora.
- Acha que não? Você não julga que possa haver outros bandos, outros Franciscos, que necessitem mais de um instrutor do que este que se encaminha para a luz?
- Eu? Fernão, eu sou uma simples gaivota e você é...
- O próprio filho da Grande Gaivota, suponho? – Fernão suspirou e olhou o mar. – Você já não precisa de mim. Precisa continuar descobrindo, pouco a pouco, todos os dias, o verdadeiro e ilimitado Francisco Gaivota. É ele o seu melhor instrutor. Você precisa compreendê-lo e treiná-lo. (Conhecer-se a si próprio leva a entender o outro. Empatia é colocar-se no lugar do outro. Não só dos semelhantes, mas de tudo o que tem vida, assim significamos o respeito ao Criador do nosso mundo que conhecemos).

Um momento depois, o corpo de Fernão começou a estremecer no ar, a ficar brilhante e a tornar-se transparente.
- Não os deixe espalhar boatos a meu respeito ou fazerem de mim um deus. De acordo, Chico? Eu sou uma gaivota que gosta de voar, talvez.
- FERNÃO!
- Pobre Chico! Não creia no que os seus olhos lhe dizem. Tudo que mostram é limitação. Olhe com o entendimento, descubra o que você já sabe e verá como voar.

O brilho extinguiu-se. Fernão Gaivota desapareceu no ar.

Passado um bocado, Francisco Gaivota arrastou-se para o céu e encontrou-se face a face com um novo grupo de alunos, desejosos de ter a sua primeira lição.

- Para começar – disse Francisco pesadamente -, têm de compreender que uma gaivota é uma ilimitada ideia de liberdade, uma imagem da Grande Gaivota, e todo o corpo de vocês, da ponta de uma asa à ponta da outra, não é mais que o próprio pensamento de vocês.
As jovens gaivotas olharam-no interrogativamente. “Isso não parece uma regra de loop!”, pensaram.
Francisco suspirou e recomeçou.
Humm, muito bem... Vamos começar com o voo planado – disse-lhes, ...
...Mas, ao dizer isso, compreendeu de súbito que o seu amigo não fora mais divino do que ele próprio.
“Não há limites, Fernão!?”, pensou. ...

... E embora tentasse mostrar-se severo com seus alunos, Francisco Gaivota viu-os de repente como eram realmente, por um momento, e mais do que gostou, amou o que viu. “Não há limites, Fernão?”, pensou e sorriu. A sua corrida para a aprendizagem acabava de começar. – (Bach, 1976, página 148).

Fim... 



BIBLIOGRAFIA:

BACH, Richard. A História de Fernão Capelo Gaivota. 1ª Edição; Rio de Janeiro: editora Editorial  Nórdica, 1976.
Fotografias de Russell Munson; tradução de Antonio Ramos Rosa e Madalena Rozález; capa de Antonio Mendes de Oliveira, adaptada da original de 1970.


BACH, Richard. Fernão Capelo Gaivota. 1ª Edição e inédita Parte 4; Rio de Janeiro: Editora Record, 2015.
Fotografias dos originais de Russell Munson; tradução de Ruy Jungmann e Parte 4 traduzida por Márcia Alves. Capa adaptada da original.

-          Título original: JONATHAN LIVINGSTON SEAGULL – a Story. Richard Bach.




¹ - OBRA LITERÁRIA DE RICHARD BACH:

Longe É Um Lugar Que Não Existe;
A Ponte Para O Sempre;
Ilusões;
O Dom De Voar;
Fernão Capelo Gaivota;
Uma Aventura Do Espírito;
Fora De Mim;
Nada Ao Acaso;
Não Há Longe Nem Distância;
Para Além Da Minha Alma;
Um;
O Paraíso É Uma Questão Pessoal;
O Hipnotizador De Maria;
Biplano;
Mensagens Para Sempre;
Estranho A Terra;
Um Voo Solitário;
Fugindo Do Ninho;
Manual Do Messias;
Nada Por Acaso... ...





IMAGENS DE LIVROS DE RICHARD BACK:



Deus é Amor. Amai ao próximo como a si mesmo, nos ensinou seu filho Jesus. Para mim o Amor e a Bondade são isso: Conhecer-se a si próprio leva a entender o outro. Empatia é colocar-se no lugar do outro. Assim, não querer que o outro sofra. Colocarmo-nos não só no lugar dos semelhantes, mas de tudo o que tem vida, assim significamos o respeito ao Criador do nosso mundo que conhecemos. - Altair Andrade Cruz.